Amanhã é hoje

Terminei há poucos dias a leitura do livro “Amanhã é hoje”. O autor é o Luiz Machado, colega aposentado do Banco do Brasil. Aliás, é o terceiro livro de um colega de banco que tenho a oportunidade de ler. Antes do livro do Luiz, li o “Histórias do Trio 3×1”, do Orival e o “Estrambólico”, do Jota Erre. Hora dessas escreverei sobre esses dois últimos.

Usando a família Vilarinho como fio condutor do relato, o Luiz conta “causos” deliciosos, oferecendo ao mesmo tempo uma crônica de usos e costumes, reflexões sobre éticas e valores. Boa parte das histórias se passa no Alegrete, no bar do Manduca, que poderia ser qualquer bodega na região da fronteira. Dá para considerar que cada capítulo seja um conto independente, todavia entrelaçado aos demais, às vezes de forma não subsequente. Segue-se uma aparente ordem cronológica nos relatos, mas não há essa preocupação de linha do tempo. O que mais importa é a narração dos casos, o desfile dos personagens, a celebração da vida e de memórias que poderiam estar no inconsciente coletivo. E, a partir da observação dessa narrativa, constatar que amanhã é hoje.

Quando recebi o livro e olhei o tema, fique matutando sobre a que tipo de reflexão o Luiz estava nos convidando. Uma dica ele me deu na dedicatória, me convidando a viajar com os personagens. Entendi que os personagens me conduziriam pelo enredo, pelos corredores do romance. Mas não é um romance, como já pude ver logo na orelha do livro, em texto assinado por Adão Villaverde. Durante a leitura realmente eu compreendi a importância dos personagens. E são muitos. Há aqueles que são os protagonistas, é verdade, aparecendo com frequência maior que os demais. Ainda assim, todos eles nos ajudam a rascunhar a ideia central do livro, enfatizada com mais vigor na medida em que caminha para seu final.

A certa altura, um dos personagens observa “as pessoas que passavam apressadas, desconfiadas, atrasadas para a vida e que sem perceberem correm para a morte, a morte lenta, morte dos minutos, das horas, dos dias, precipitando, antecipando os anos na efemeridade da pressa”. Percebi que na narrativa dos “causos”, sobretudo os que se passam no Alegrete, inexiste essa pressa, essa corrida para o amanhã que ainda não se fez, mas em prol do qual tanto se trabalha. As coisas acontecem e as pessoas vivem o seu dia, um dia de cada vez, nas suas alegrias, tristezas, amizades, intrigas, galhofas e solidariedade. Ri muito, mas também refleti bastante. Obrigado, Luiz, pela bela obra.

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