A doçura da água – meu resumo

Nota: este texto contém spoilers do romance A doçura da água, de Nathan Harris. Não siga lendo se pretende ler o livro e é avesso a spoilers.

A Doçura da Água (The sweetnes of water, Nathan Harris, EUA, 2021), Novo Século Editora, Brasil, 2022.

A Doçura da água é o romance de estreia do escritor estadunidense Nathan Harris, A narrativa do autor passeia por diversas histórias, narradas sempre em terceira pessoa, com descrições de diálogo alternando entre discurso direto e indireto. Os personagens vão sendo apresentados e descritos no decorrer do romance, de acordo com a sequência dos acontecimentos, a fim de que as atitudes de cada um seja compreendida no seu contexto.

A meu ver a história tem cinco protagonistas, apresentados em quatro momentos distintos, tendo suas vidas conectadas em algum ponto, de modo que o sucedido a cada um deles a partir da conexão, reverbere nos sucessos futuros.

Primeiro somos apresentados a George, um homem taciturno que se recusa a deixar seu mundo, suas convicções e suas incertezas. Herdou do pai suas terras e o mais próximo que tem de um amigo, Ezra. Casado com Isabelle, com quem compartilha o silêncio e o subentendido das incertezas. Na introdução do romance George fica sabendo da morte do único filho, Caleb, que se alistara para lutar ao lados dos confederados na guerra civil americana, e que, segundo o relato trazido pelo amigo de infância e companheiro de armas, August, vergonhosamente se rendeu à União, apenas para ser morto.

Daí aparecem Landry e Prentiss. Negros libertos por ordem do governo americano, deixaram a fazenda de seu ex-senhor, Ted Morton, para quem nada mudara, Como eles não aceitaram a não-mudança, se embrenharam na mata para preparar sua fuga em busca da liberdade. Ali são encontrados por George que lhes oferece trabalho remunerado a preço justo e dignidade. A parceria dos três dá o tom do romance, mesmo quando, em seu desenrolar, Landry e George morrem.

Isabelle é a terceira apresentação. Ao saber da morte do filho (notícia que o marido hesitou um dia inteiro para lhe dar) ela morre por dentro. Mesmo quando descobre que era uma notícia falsa, pois o filho volta vivo, salvo e com não mais que um ferimento no rosto por um coronhada, sua vida não retorna aos trilhos. Há outras coisas acontecendo, como o novo projeto de vida do marido de iniciar uma plantação, a presença de estranhos na fazenda, o vazio da relação com o filho. A vida não lhe sorri. Apenas sobrevive resignadamente, buscando em detalhes as razões para seguir em frente e contando com a amizade de Mildred, uma viúva proprietária de terras no condado, sempre pronta a prestar solidariedade a Isabelle. Quando se vê sem o marido e sem o filho, sua vida ganha um propósito e significado.

Por fim, temos Caleb, o soldado dado como morto, mas apenas humilhado pelos soldados da União. Talvez a humilhação soe pior que a morte, mas não para Caleb. Desde criança acostumou-se a ser humilhado, a ser submisso. Essa era a rotina de seu relacionamento por August, por quem sempre foi apaixonado. Sua paixão por August foi a razão de sua ida à guerra e, ao retornar, volta como antes a um mundo que não é seu, pois não se encaixa na mundo de seu pai, nem tem ideia de que seria um mundo seu, ou forças para construir um.

O assassinato de Landry principia uma série de acontecimentos, como um rastilho de pólvora, que levam a história a rumos inesperados. Os personagens são levados a situações de estresse extremos e mostram toda sua resiliência. A vida não é generosa com nenhum deles, mas nenhum deles desiste de seguir adiante, ainda que isso signifique, por um momento, ficar onde se está.

É uma linda história de solidões e pertencimentos, em que os destinos são construídos na consequência de cada ato, a maioria dos quais, inintencionais e fortuitos. Como é a vida de quase todo mundo.

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